sexta-feira, 3 de Maio de 2024  22:03
PESQUISAR 
LÍNGUA  

Portal D'Aveiro

Inovasis Prescrição eletrónica (PEM), Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica (MCDT), Gestão de Clínicas Inovasis

Inovanet


RECEITA SUGESTÃO

Sopa de Abóbora

Sopa de Abóbora

Retire a pele à abóbora e corte-a em pedaços. Lave muito bem o alho francês e corte-o em fatias finas. ...
» ver mais receitas


NOTÍCIAS

imprimir resumo
23-04-2008

Partilha de sonho e projecto


Homenagem - O último adeus

Foi a enterrar, na última segunda-feira, no cemitério do Troviscal, espaço que elegeu para o eterno descanso, aquele que foi durante mais de meio século director do Jornal da Bairrada, Dr. Manuel Granjeia. Tinha 85 anos e uma vida cheia, dedicada a causas, fazendo o bom combate.

Era casado com Maria da Graça Ribeiro de Carvalho Serra Granjeia e pai de António Manuel Carvalho Serra Granjeia, actual director deste renovado semanário, Maria Teresa Carvalho Granjeia Ramalheira, professora do Ensino Oficial, Henrique Carvalho Serra Granjeia, bancário, em lugar de destaque, em Moçambique, que veio para um último adeus, e Francisco Carvalho Serra Granjeia, advogado, como seu pai, na praça de Aveiro.

O corpo esteve em câmara ardente na capela mortuária da igreja de S. Pedro, em Verdemilho, onde houve Celebração da Palavra, em sufrágio de sua alma, e realizadas as necessárias cerimónias. Presidiu ao acto padre João Paulo da Graça Ramos. Amigo da família, presidiu à cerimónia de casamento do casal, no santuário de Fátima, há precisamente cinquenta anos. Durante a homilia, evocou a figura do extinto: "homem de carácter, de valores" (um deles era a família), "pai exemplar", "homem de princípios".

Marcaram presença o governador civil, Filipe Neto Brandão, presidente da Câmara de Oliveira do Bairro, Mário João Oliveira, vice-presidente da Câmara de Aveiro, Carlos Santos, ex-presidente da CM da Murtosa, Santos Sousa, ex-presidentes da Câmara de Aveiro, Alberto Souto, Celso Santos e Girão Pereira e presidentes da Junta da Glória e Aradas. A igreja encheu-se de amigos, num último adeus.

Partilha de sonho e projecto. Decorria o ano de 1950, quando um grupo de homens, sonhadores e audaciosos, começou a alicerçar a ideia da publicação de um jornal, com a periodicidade quinzenal. Já com alguns anos em cima dos ombros e calejados nas diversas experiências e quadrantes da vida, souberam rodear-se de gente nova, de modo a deixar, desde logo, uma marca de juventude. Foi assim que entraram, nesta távola redonda de sonhos, dois recém-formados em Direito, Drs. Manuel Granjeia e Aulácio de Almeida (de Aguada de Baixo), promissora figura que cedo a morte havia de roubar, quando regressava a casa dos seus trabalhos na Assembleia da República. O primeiro assumia a directoria. A linha editorial era servir a região e os seus verdadeiros interesses e isso revelou-se, desde logo, a grande matriz do quinzenário, que foi, na verdade, então, uma pedrada no charco da imprensa regional. Como ainda é hoje luzeiro. Em Coimbra foi membro activo do CADC (Centro Académico de Democracia Cristã).

Algumas paixões. Dr. Manuel Granjeia, no seu combate a favor da região, que queria colocar no mapa, foi um acérrimo defensor da criação e delimitação da Região da Bairrada, concedendo todo o espaço ao grande paladino da causa, prof. Américo Urbano que, semana a semana e durante anos, ia atirando achas para a lareira do sonho. Por outro lado, foi um grande apaixonado pelo ciclismo e pelo Sangalhos, no tempo das maiores glórias desta colectividade. Pôs-se ao lado do projecto da construção da pista do ciclismo, o que veio, felizmente, a verificar-se. Também defendia a implantação da Pista de Remo na Pateira de Fermentelos, desiderato que foi sucessivamente naufragando.

A Bairrada corria-lhe no sangue, ainda que afastado por afazeres profissionais. Desde cedo, escolheu a cidade de Aveiro para viver e criar os seus quatro filhos.

Amor às raízes. Homem de princípios, revelou um grande amor à terra e à sua Bairrada, afinal, às raízes primeiras, ao querer ser sepultado no cemitério da sua terra natal e simultaneamente passar pela última vez pela igreja, onde foi baptizado, num tempo em que no Troviscal se viviam perturbados e destemperados tempos de um republicanismo exacerbado. Nasceu, no lugar da Póvoa do Forno, numa família abastada e considerada no meio, afecta à igreja, e foi neste ambiente de luta e de fé que se temperou a sua formação de jovem e homem, lutador por valores em que acreditava, com exaltação e fulgor.

Aqui, no templo, foi acolhido pelo padre Manuel Melo, pároco da freguesia que procedeu aos últimos rituais e por alguns familiares e amigos, nomeadamente presidente da Assembleia Municipal, Dias Cardoso, presidente da Junta do Troviscal, Adelino Cruz, e ex-presidente da CMOB, Acílio Gala, e familiares. Depois, o cortejo rumou para o cemitério velho, onde os seus restos mortais ficaram a repousar na capela, onde repousam também as cinzas de seus pais e seus irmãos.

Alguns dados biográficos

Dr. Manuel Granjeia fez a primária na escola da Póvoa do Forno, entrou no ano da inauguração, 5 de Outubro de 1930, e frequentou o Colégio de Oiã. Formado, montou escritórios em Aveiro, onde trabalhou com Pinho Neto Brandão, de outro quadrante político, (foi mesmo governador civil, após o 25 de Abril). Foi um dos causídicos mais conhecidos na praça. Além disso, foi advogado de várias e prestigiadas empresas, nomeadamente a Vista Alegre, Jerónimo Pereira Campos e Frapil. No início da carreira, muito novo, desempenhou as difíceis funções de delegado do Tribunal do Trabalho do distrito de Aveiro, durante alguns anos.

Foi condecorado, no final da carreira, pela Ordem dos Advogados.

Religiosamente, integrou movimentos de apostolado: pertenceu às equipas dos Cursos de Cristandade e participou na sua escola durante muitos anos e fez parte ainda do Movimento dos Casais, desde o início.

Sem papas na língua

Educado no amor à Pátria e aos seus valores, como era timbre da época (infelizmente, hoje dizer-se patriota cheira a bafio, para gente de certa cartilha?) isso não o inibia de, muitas vezes, estar contra certas atitudes governamentais. Fomos testemunha de uma situação insólita, quão inesperada. Corria o ano de 1967, quando publicámos o livro de crónicas de guerra, inseridas durante meses, neste mesmo jornal, subordinadas a um título geral, Tarrafo, que, em língua da Guiné, não queria dizer senão pântano. Livro que logo mereceu as garras abusivas da PIDE que veio visitar-nos e recolher os exemplares em minha posse e os que porventura estivessem noutro local. Era o caso do escritório do director do Jornal da Bairrada, na rua 31 de Janeiro. Recolhidos os exemplares em minha casa, seguimos de carrinha para Aveiro. Chegados aos escritórios, pensam que Dr. Manuel Granjeia se calou, contemporizando com tão arbitrária decisão, a apreensão de Tarrafo? Ele, não. Protestou, barafustou e não poupou acesas críticas aos grandes exploradores das colónias, responsáveis também pela explosão das guerras, não se coibindo de chamar ao pelourinho alguns grandes, nomeadamente os Melos? Não teve papas na língua e chegámos a temer pela vida e paz do nosso amigo. A PIDE lá limpou dois ou três volumes de exemplares. Resta dizer que de toda a edição escaparam poucos exemplares, guardados por amigo, em caixa de milho?

Armor Pires Mota


ACESSO

» Webmail
» Definir como página inicial

Publicidade

TEMPO EM AVEIRO


Inovanet
INOVAgest ®